“Nada grandioso entra na vida dos mortais sem uma maldição”. É esta frase aflitiva do dramaturgo Sófocles que inicia o documentário “O Dilema das Redes”. Produzido pela Netflix em 2020, o longa-metragem despertou atenção geral ao reunir alertas sobre as mídias sociais, advindos de especialistas em tecnologia e ex-executivos de companhias como Google, Facebook e YouTube.
O documentário aborda diversos tópicos do universo da tecnologia, desde as conexões virtuais até a polarização política. E, já que não queremos ficar por fora dessa discussão tão importante nos dias atuais, hoje, a Konnet Telecom apresenta 13 aprendizados que podemos tirar de “O Dilema das Redes”. Vamos lá?
- Design ético: Quantas vezes você já interrompeu suas atividades para checar uma notificação? Já parou para pensar que ela foi projetada exatamente para isso? São perguntas como essa que levaram o ex-designer do Google Tristan Harris, há alguns anos, a escrever um manifesto à empresa, dizendo que a interface da tecnologia deve apoiar eticamente (e não manipular) os pensamentos e ações das pessoas por trás das telas. Você concorda?
- Quem é o produto? Empresas como Facebook, Instagram, Snapchat, Twitter, YouTube, Pinterest, Reddit e tiktok não cobram dinheiro dos usuários para que eles utilizem seus serviços. Na verdade, quem paga por eles são os anunciantes. Isso indica que o modelo de negócio dessas empresas é manter as pessoas conectadas à tela, capturando mais e mais seu interesse por meio de conteúdos e anúncios personalizados e, dessa maneira, mudando gradativa e imperceptivelmente seu comportamento e sua percepção.
- Novo mercado: Hoje, as empresas de tecnologia têm como modelo de negócio a garantia de que os anunciantes terão o máximo de sucesso. Para isso, captam-se os dados de seus usuários. Como diria a pesquisadora da Universidade de Harvard Shoshana Zuboff: “Agora, temos mercados que negociam o futuro do ser humano em larga escala, produzindo trilhões de dólares, que tornaram as empresas da Internet as mais ricas da História da Humanidade”.
- Captação de dados: Que conteúdos vemos nas mídias sociais? Quanto tempo passamos vendo cada um deles? O que curtimos? O que comentamos? Quantas vezes checamos o perfil de determinada pessoa? Todas as ações dos usuários nas mídias sociais são cuidadosamente monitoradas e registradas. Essa captação de dados permite que as empresas tracem um perfil de cada usuário, sabendo exatamente quais são seus gostos, preferências, anseios e neuroses. Dessa maneira, é possível prever padrões de comportamento e lançar conteúdos e anúncios mais compatíveis com o perfil de cada usuário.
- Manipulação: As empresas de tecnologia têm três objetivos principais: o engajamento, que mantém o usuário utilizando a mídia social; o crescimento, que estimula o convite para outros amigos a utilizarem; e a publicidade, que fornece o lucro por meio de anúncios. Com o controle de tais objetivos, essas empresas conseguem manipular a realidade social, tornando fundamental manter conexões virtuais, especialmente para as gerações mais novas. Assim, como formula o cientista Jaron Lanier, para um geração global de pessoas, “os conceitos de comunicação e cultura estão atrelados ao conceito de manipulação”.
- Vício: As empresas utilizam uma ferramenta chamada de tecnologia persuasiva. Ligada à manipulação, ela tem o intuito de ser aplicada ao máximo, buscando a mudança no comportamento das pessoas ao criar hábitos inconscientes (o de atualizar o feed de notícias o tempo todo, por exemplo). Assim, a tecnologia passa a ser não somente uma ferramenta, mas um um meio de manipulação que traz consequências graves, como o vício.
- Doenças psicológicas: As mídias sociais também influenciam profundamente o senso de autoestima e de identidade das pessoas, criando a necessidade constante de aprovação social. Isso gera problemas graves, principalmente entre crianças e adolescentes. Exemplos são o aumento exponencial de casos de doenças psicológicas, como depressão e ansiedade, e de fenômenos sociais como o suicídio. Estudos indicam que as gerações mais novas são mais fragilizadas e menos propensas a correr riscos.
- “Bolhas”: Sim, cada um de nós vive na sua própria “bolha”. Isso porque a realidade de cada pessoa é condicionada pelos algoritmos e pelos mecanismos de busca. Assim, o feed do Facebook constrói a linha do tempo mais adequada ao seu perfil. Enquanto isso, os resultados de uma pesquisa no Google, por exemplo, são diferentes em cada localização, variando de acordo com as pesquisas mais frequentes no lugar e os interesses prévios demonstrados pelo usuário. Dessa maneira, as pessoas têm acessos a conteúdos diferentes. Em larga escala, torna-se impossível reconhecer ou consumir informações que contradigam a visão de mundo que o usuário criou, acentuando a polarização política.
- Polarização política: Mecanismos como os algoritmos do Facebook e o “Recomendados Para Você”, do Youtube, aumentam a polarização da sociedade. Assim, para uma pessoa que assiste um vídeo sobre a Terra Plana, por exemplo, são recomendadas outras dezenas de vídeos com a mesma temática. Esse recurso aumenta a disseminação de notícias falsas. O intrigante é que em termos econômicos, as fake news e a polarização política são extremamente eficientes para manter as pessoas conectadas e aumentar o lucro das empresas.
- Crise existencial: Para Tristan Harris, a tecnologia não é o problema causador de todos os tópicos anteriores. O problema é o uso dela pelos seres humanos, de forma que “a tecnologia instiga o pior da sociedade: caos em massa, indignação, incivilidade, desconfiança, solidão, alienação, polarização, manipulação eleitoral, populismo, distração e incapacidade de focar nos problemas reais”. Assim, para ele, tratar desses problemas é essencial para a harmonia social e para a preservação da espécie humana.
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